Depois de uma intensa pesquisa sobre as características estilísticas e temáticas, as correntes ou ideais que influenciavam Reis, e de sabermos um pouco mais sobre a vida enquanto escritor deste heterónimo de Pessoa, foi-nos também pedido que escrevêssemos um poema que fosse capaz de abranger tudo o que diz respeito a Reis, um poema que pudesse mesmo ser confundido com as suas famosas Odes. Apesar de não tão bom como os de Ricardo Reis, aqui está o meu original:
Não quero o que me não possas dar
Tão pouco quero o que dar-me possas
Quero apenas que o Fado que me cantam
Este momento não me leve.
Se o que me dás finges,
Ou se o que me mostras sentes,
Desde que mo não tirem os deuses,
Tanto me dá,
Pois me chega o que me mostras
É para mim suficiente,
Pois tal como o rio ao mar chega,
Também ao fim este momento há-de chegar.
Outro como este tão pouco quero,
Pois sei que mesmo que o quisesse,
Jamais o alcançaria, mesmo em sonhos
Sem olhar para trás, perdendo-te então.
O Fado, carrasco do mar,
Canta sempre mais alto,
Deste lado dos píncaros se ouve,
E se não, ele lá se fará sentir.
Fitemos, portanto, imóveis,
O curso do rio; uma palavra não digas,
Um gesto não esboces,
O teu "amor" não expresses.
Cálida, morena, frágil e inocente,
Assim te vejo e assim te quero lembrar,
Se o fado te me levar,
Antes de me levar de ti.