sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

http://s3.metaldamage.com.pt/c.php?uid=128448

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Só para ambientar!



Se não conseguir ouvir, abra por favor o link subjacente:
http://www.mp3.com/media_player/viewer.php?action=launch_player_by_id&ref_id=21692694&ref_type_id=3&edid=&ptid=&ont_id=11735

Mas primeiro o porquê...

Não deve ser difícil de encontrar, por esta web fora, um blogue, ou dois, ou mesmo cem sobre Ricardo Reis, e provavelmente estarão até a perguntar-se porque apareceu agora mais um... Efectivamente, só na minha escola foram ou estarão, a par do meu, a ser criados uma série deles, todos com o mesmo intuito, o mesmo propósito. Todo este movimento surgiu como uma resposta a uma WebQuest, para quem não saiba um pequeno desafio que nos é lançado pela nossa professora de português, que visa motivar os alunos e inseri-los num outro meio, distinto do sensível, entrando num outro domínio. Assim, surgiram neste mundo digital uma série de blogues com informações de Ricardo Reis, as suas características estilísticas, temáticas, e um poema original, feito por cada um... Para os visitantes, espero que possa ser útil e que aprendam um pouco mais sobre Ricardo, o meio em que se movia e ainda algumas das filosofias que estão por detrás da sua particular maneira de escrever!
Pois é, o choque tecnológico chegou mesmo, e atingiu tudo e todos...Nós não fomos excepção!!

Ricardo Reis...

Num tom mais informal, penso que é bastante importante sabermos um pouco quem foi esta personalidade e um pouco daquilo em que ela contribuiu para o desenvolvimento e evolução do movimento literário português. Disse personalidade porque nao podemos referir-nos a Ricardo Reis como uma "pessoa física", termo até bastante utilizado neste meio digital. Este ser, criado, a par de muitos outros, por Fernando Pessoa, tinha diversas características individualizantes, tinha a sua maneira própria de escrever, de pensar, de estar na vida. Tinha a sua própria filosofia de vida, uma profissão, tinha padrões de regimento diferentes de qualquer outro, até a sua educação era diferente. Existem contudo datas distintas para o nascimento de Ricardo Reis: o nascimento na mente do poeta, a 29 de Janeiro de 1914: "O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, que se ia desenvolvendo." No entanto, esta data acabou por ser alterada. Pessoa considerava que Ricardo Reis foi o primeiro heterónimo gerado, apesar de não ter sido o primeiro a iniciar a sua actividade lírica. "Fisicamente", Ricardo Reis nasceu em Lisboa, às 11 horas da noite do dia 28 de janeiro de 1914.
Ricardo Reis tem uma concepção simplista da vida, é um relativista sereno. Não há heterónimo mais parecido com Pessoa, tanto na aparência - magro, de estatura média, ligeiramente curvado, moreno - quer também na sua maneira de ser e no seu pensamento. É adepto do sensacionismo, discípulo de Caeiro, mestre de todos (ortónimo e restantes heterónimos), mas na sua perspectiva neoclássica Ricardo Reis acredita "que as coisas devem ser sentidas, não só como são, mas também de modo a integrarem-se num certo ideal de medida e regras clássicas." O neopaganismo, o estoicismo e o epicurismo estão também presentes na sua poesia.
«Deve haver, no mais pequeno poema de um poeta, qualquer coisa por onde se note que existiu Homero» (Páginas Íntimas e Auto Interpretação, p.393).

Para saber um pouco mais sobre Reis, agora de uma forma oral http://discursodirecto.podomatic.com/player/2006-05-01T12_53_57-07_00?src=http%3A%2F%2Fdiscursodirecto.podOmatic.com%2Fenclosure%2F2006-05-01T12_53_57-07_00.mp3&flv=0



O estoicismo de Zenão

O principal fundador do Estoicismo foi Zenão de Cício (cerca de 300a.C.), embora esta escola de pensamento tenha sofrido evoluções posteriores. Viria a ser muito influente em Roma, cidade que daria ela própria origem a muitos filósofos desta corrente. O estoicismo, sistema monístico que considerava o cosmos como uma entidade única, em que Zeus e a entidade criadora eram apenas um elemento desse cosmos. O cosmos era encarado como um ciclo, tanto no crescimento, como na morte e regeneração, sendo pessoa sábia aquela que se conforma com a Natureza. Apologia da diferença face aos bens materiais e seguimento das virtudes, como discernimento, coragem, justiça e autodomínio. Este último leva à apatheia, permite a aceitação das acções do cosmos, do fatum e da morte inexorável.
O Estoicismo expressava ainda um forte universalismo, defendendo a formação de uma comunidade humana que espelhava a unidde do cosmos. Considerava ainda que todos os seres humanos continham em si a chama da razão, ou o fogo criador divino.

Desde que se viva em conformidade, em unidade com este cosmos, desde que se cumpram as leis do Destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são perturbações da razão, a felicidade pode ser atingida. O ideal estóico é a apatia, que se define como a ausência de paixão permitindo a liberdade, mesmo para os escravos.

O Epicurismo

O Epicurismo também cultivava a tranquilidade, mas partindo de outro ponto de vista: fundado por Epícuro, este movimento baseava-se na teoria atómica. Segundo Epícuro, por detrás dos sentidos-impressões, estão os átomos, de que até os Deuses são formados. Para os epicuristas, o ser humano deve procurar a ausência de dor e de sofrimento e aceitar a morte, sem receio. O bem supremo é então encontrar-se em estados de pleno e puro prazer, nomeadamente aqueles que dizem respeito às predisposições, tais como não sentir fome. A morte é reconhecida apenas como sendo a fronteira da vida: quando as pessoas perceerem qe nada têm a temer, perderão o medo e alcançarão a tranquilidade. Devem-se, no entanto, evitar os prazeres excitantes, apostar apenas os tranquilos - apologia da procura do prazer moderado, da calma, da ataraxia, do carpe diem horaciano.


Ricardo Reis apresenta-se entao como um poeta disciplinado, que procura os prazeres no limite do ser humano face ao Destino e à brevidade da vida. Daí fazer a apologia da indiferença solene perante o poder dos deuses e o Destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, sem «desassossegos grandes».

Horácio

Quinto Horácio Flaco foi um poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. Conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma antigo, é diariamente referenciado e citado. De entre a sua filosofia, destaca-se a importância do presente, a fruição do momento, o carpe diem, destaca-se a importância que ele reserva ao presente, e o desprezo em relação ao futuro. A vida é breve, cada momento é único, irrepetível, e como tal é fundamental colher dele tudo aquilo que o presente nos pode oferecer, antes da morte. Está num patamar relativamente equivalente a Epícuro, mentor do epicurismo, filosofia que apresentava a felicidade como sinónimo de ausência de dor ou de qualquer tipo de riscos.

Assim, a poesia de Ricardo Reis, é notoriamente influenciada por estas duas correntes que se completam. conseguimos encontrar exemplos disso em praticamente todos os poemas deste heterónimo neo-pagão, como em "Vem Sentar-te Comigo, Lídia".






Características estilísticas

- Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita
- Estrofes regulares de verso decassílabo alternadas ou não com hexassílabo
- Verso branco
- Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração
- Predomínio da subordinação
- Uso frequente do hipérbato
- Uso frequente do gerúndio e do imperativo
- Uso de latinismos (astro, ínfero, insciente...)
- Metáforas, eufemismos, comparações, imagens
- Estilo construído com muito rigor e muito denso

A particular escrita de Reis...

· Epicurismo
- busca da felicidade relativa
- moderação nos prazeres
- fuga à dor
- ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)
· Estoicismo
- aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica, nada deixa e nunca regressa.”)
- indiferença face às paixões e à dor
- abdicação de lutar
- autodisciplina
· Horacianismo
- carpe diem: vive o momento
- aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro)
· Paganismo
- crença nos deuses
- crença na civilização da Grécia
- sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia

Para além destas características mais notórias, existem ainda outras:
· Culto do Belo, como forma de superar a efemeridade dos bens e a miséria da vida
· Intelectualização das emoções
· Medo da morte
· Quase ausência de erotismo, em contraste com o seu mestre Horácio
· Neoclassicismo
- Poesia construída com base em ideias elevada
- Odes (forma métrica por excelência)

Slideshow de Reis

O Clube Dos Poetas Mortos


Carpe diem quam minimum credula postero (colha o dia, confia o mínimo no amanhã)

O professor, personagem de Robin Williams no filme "A Sociedade dos Poetas Mortos", utiliza-a assim:
"Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas."

Já nas primeiras aulas, após ouvir de um quadro de ex-alunos já mortos o famoso “Carpe Diem”, depois de rasgar a introdução inteira do livro de Literatura que ensinava a medir poesia utilizando gráficos, e depois de ouvir os poemas “To the Virgins, Make Much of Time” do Robert Herrick e “Oh me, oh life” do Walt Whitman”, com as mensagens principais do Mr. Keating: o “Seize the Day”, aproveite o dia, e o “Think for Yourself”, pense por si mesmo, os alunos procuram saber mais sobre Mr. Keating, um professor diferente e apaixonante, que também havia estudado na Welton Academy, ou “Hellton”, como os alunos “carinhosamente” apelidaram a escola.

A quebra dos estereótipos educacionais proposta pelo professor em questão, John Keating, remete os alunos a novas possibilidades e visualizações acerca do mundo em que vivem, ou que deveriam viver. Isso faz brotar nos jovens novos sentimentos, sempre com o insistente auxílio de John Keating pela quebra de barreiras impostas pela sociedade, família e instituição, o que fica bem claro com a morte da personagem Neil Perry, que se remete à vida enquanto ela ainda lhe oferece possibilidades de proveito a cada momento, relação direta com uma frase muito usual na trama: Carpe Diem (aproveite o dia).

O ideal de Carpe diem está presente em tudo o que tenha que ver com Ricardo Reis. Para o poeta, o amanhã não é certo, não sabemos o que vem aí. Sabemos que pode ser melhor, mas sabemos também que pode ser pior. Assim, o presente é o único tempo que importa é o único dado adquirido, aquele momento que podemos fruir, o único que nos pode trazer alegria, felicidade, ou mais tarde boas recordações.

Mona Lisa's smile

Filme norte-americano feito em 2003, com a duração de 117 minutos, recria a atmosfera e os costumes do início da década de 50. Conta a história de uma professora de arte que, educada na liberal Universidade Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma escola feminina, tradicionalista – Wellesley College, onde as melhores e mais brilhantes jovens mulheres dos Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para se transformarem em cultas esposas e responsáveis mães. No filme, a professora irá tentar abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a administração da escola e as próprias alunas.

O filme de Newell aparece como variação feminina de O CLUBE DOS POETAS MORTOS e rotineira incursão num mundo de ensino idealizado. Mas apesar da reputação do colégio, a professora verifica que o sucesso é conseguido pelos melhores casamentos.

Assim, tenta mostrar o vasto leque de possibilidades a todas elas, que parem de pensar em si próprias como apenas esposas mas expandirem a mulher que são a tudo que podem vir a ser.

Lídia

O meu preferido

É bastante normal,pelo menos com as pessoas que tenho falado sobre isso, elegerem o poema "Vem sentar-te comigo, Lídia", como o seu preferido... E eu não sou excepção. Com efeito, a primeira vez que li este poema, nao tinha qualquer conhecimento prévio sobre o seu autor, e era-me portanto um pouco complicado fazer uma análise própria do mesmo para o compreender. Assim, após uma segunda leitura mais atenta deste poema, pude constatar que é a melhor representação, na minha opinião, das ideias estóico-epicuristas presentes em Ricardo Reis.
Ricardo é o poeta clássico da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Este poema, a par de "Segue o teu Destino", é um poema que nos mostra que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos Deuses, mas defende sobretudo a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A maneira subtil com que encara a situação, a perfeita lucidez e racionalidade que conseguem trespassar o poema até nós, quando pressente que as coisas estão a avançar um pouco mais entre ele e Lídia, e a maneira como se processa e se explica a separação entre ambos, são tudo elementos que embelezam este poema, o enchem de simbolismo, e nos mostram o medo que o Eu tem em assumir um compromisso, em dar um passo em falso ou apenas em correr riscos mínimos. O próprio vocabulário utilizado é bastante rico, expressivo e demonstra exactamente este receio de Pessoa.
O modo como ele aborda a situação é também único. Num meio, podemos dizer, romântico, no meio da natureza, onde duas pessoas que gostam uma da outra encontram de mãos enlaçadas, era de esperar qu algo mais acontecesse do que fitar a paisagem. Mas todos nos enganamos. O Eu, numa atitude de contemplação, admira a Natureza, o rio, a Lídia, não quer sair daquele momento e deseja lembrar-se dela sempre assim, não tomando uma mínima atitude em relação a nada...
O poema é mesmo muito lindo, penso que todos concordam com isso!!!

O meu poema (Não quero o que me não possas dar...)

Depois de uma intensa pesquisa sobre as características estilísticas e temáticas, as correntes ou ideais que influenciavam Reis, e de sabermos um pouco mais sobre a vida enquanto escritor deste heterónimo de Pessoa, foi-nos também pedido que escrevêssemos um poema que fosse capaz de abranger tudo o que diz respeito a Reis, um poema que pudesse mesmo ser confundido com as suas famosas Odes. Apesar de não tão bom como os de Ricardo Reis, aqui está o meu original:


Não quero o que me não possas dar

Tão pouco quero o que dar-me possas
Quero apenas que o Fado que me cantam
Este momento não me leve.

Se o que me dás finges,
Ou se o que me mostras sentes,
Desde que mo não tirem os deuses,
Tanto me dá,

Pois me chega o que me mostras
É para mim suficiente,
Pois tal como o rio ao mar chega,
Também ao fim este momento há-de chegar.

Outro como este tão pouco quero,
Pois sei que mesmo que o quisesse,
Jamais o alcançaria, mesmo em sonhos
Sem olhar para trás, perdendo-te então.

O Fado, carrasco do mar,
Canta sempre mais alto,
Deste lado dos píncaros se ouve,
E se não, ele lá se fará sentir.

Fitemos, portanto, imóveis,
O curso do rio; uma palavra não digas,
Um gesto não esboces,
O teu "amor" não expresses.

Cálida, morena, frágil e inocente,
Assim te vejo e assim te quero lembrar,
Se o fado te me levar,
Antes de me levar de ti.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Não quero recordar nem conhecer-me

Não quero recordar nem conhecer-me.
Somos demais se olhamos em quem somos.
Ignorar que vivemos
Cumpre bastante a vida.

Tanto quanto vivemos, vive a hora
Em que vivemos, igualmente morta
Quando passa conosco,
Que passamos com ela.

Se sabê-lo não serve de sabê-lo
(Pois sem poder que vale conhecermos?)
Melhor vida é a vida
Que dura sem medir-se.

domingo, 25 de novembro de 2007

Uma pequena brincadeira...

Ricardo Reis

Classifique as afirmações seguintes em verdadeiras (V) ou falsas (F):

1 - Ricardo Reis vê em Caeiro um exemplo a seguir.

A) Verdadeiro

B) Falso

2 - Reis como se demite da vida, recusando o amor e o empenhamento social, recusando a própria felicidade, para que esta não seja um ponto de comparação possível em momentos de dor e infelicidade.

A) Verdadeiro

B) Falso

3 - A sua formação clássica ensina-lhe equilíbrio e contenção perante a vida.

A) Verdadeiro

B) Falso

4 - A sua poesia afasta-se da sua formação helenista e latinista.

A) Verdadeiro

B) Falso

5 - Todo o percurso de vida de Reis consiste na vivência do momento.

A) Verdadeiro

B) Falso

6 - Os poemas de Reis extravasam emoções e sentimentos.

A) Verdadeiro

B) Falso

7 - Para Reis não há passado nem futuro, apenas o presente interessa.

A) Verdadeiro

B) Falso

8 - Reis defende o empenhamento social do poeta.

A) Verdadeiro

B) Falso

9 - A poesia de Reis sintetiza a filosofia epicurista e a moral estóica

A) Verdadeiro

B) Falso

10 - O modelo estóico defende o controlo das emoções pela razão.

A) Verdadeiro

B) Falso

11 - Segundo Reis, a paixão deve dominar a vida.

A) Verdadeiro

B) Falso

12 - A vida é fugaz, daí que, segundo Reis, todo o compromisso seja inútil.

A) Verdadeiro

B) Falso

13 - O enlaçar e desenlaçar as mãos surge como símbolo da recusa de qualquer compromisso.

A) Verdadeiro

B) Falso

14 - Reis defende o papel social da poesia.

A) Verdadeiro

B) Falso

15 - A linguagem de Reis é contida.

A) Verdadeiro

B) Falso

16 - Reis recusa o paganismo.

A) Verdadeiro

B) Falso

17 - Reis revela uma grande pobreza afectiva.

A) Verdadeiro

B) Falso

18 - Em Reis, não amar é uma escolha consciente.

A) Verdadeiro

B) Falso

19 - Para Reis, o principal objectivo é não sofrer.

A) Verdadeiro

B) Falso

20 - Reis integra-se na vertente modernista do universo poético pessoano.

A) Verdadeiro

B) Falso

Vivem em nós inúmeros

Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os.
Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.

Sábio e Só o ter flores pela vista fora

Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

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Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exactos
Basta para podermos
Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos não tome
Do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim.
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água
Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias
Dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
Scolhermos do que fomos
O melhor pra lembrar.
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno&rio,
E os nove abraços do horror estígio,
E o regaço insaciável
Da pátria de Plutão.

Mestre

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...

À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos,
quase Maliciosos,
Sentir-nos ir.


Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.

reis